Boas Práticas Saúde

Teleconsulta de Anestesia no IOGP | Teresa Almeida

A Telemedicina é um tema emergente entre os anestesiologistas e, embora permaneçam alguns desafios, tem mostrado, através de estudos publicados recentemente em revistas de referência, que é possível realizar a avaliação pré-anestésica de forma segura, eficiente e com elevado grau de satisfação dos doentes.

A teleconsulta foi considerada, pelo XXI Governo Constitucional (Despacho n.º 5911-B/2016, de 3 de maio), uma peça importante na estratégia que visa colocar o doente no centro do sistema, promovendo a oferta de serviços que facilitem o acesso a cuidados de saúde.

Na prossecução desses objetivos, o Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP) decidiu, após analisar uma proposta de projeto apresentada pela responsável do sector da Anestesiologia, colocar em prática, a partir de novembro de 2021, uma valência de teleconsulta em anestesiologia. Para tal, solicitámos o apoio do Centro Nacional de TeleSaúde, da SPMS.

A teleconsulta de Anestesia realizada no IOGP funciona como alternativa à consulta presencial, realizando-se de modo semelhante a esta, mas através de videochamada.

IOGP já realizou 70 teleconsultas

Desde o início do projeto, foram realizadas 70 teleconsultas de avaliação pré-anestésica, através da plataforma RSE Live, a doentes propostos para intervenções cirúrgicas oftalmológicas, geograficamente espalhados pelo País e, num caso específico, a um doente residente no estrangeiro. Cabe aqui referir que estas consultas foram feitas pela única anestesista que, neste momento, está no quadro de pessoal do IOGP, que prevê três profissionais desta especialidade.

Esta consulta, realizada pelo anestesiologista, é precedida de uma triagem baseada na análise de um questionário e de exames complementares de diagnóstico, a fim de verificar a elegibilidade para teleconsulta. No que concerne à avaliação ASA[i] e ao tipo de anestesia, está definido, por nós, que são considerados admissíveis para teleconsulta os doentes ASA I e II, para anestesia geral, e os doentes ASA I, II e III, no caso de anestesia loco-regional.

Cumpre ao secretariado da cirurgia avaliar, junto do doente / familiar, as condições técnicas e humanas que permitam a realização da consulta à distância, procedendo, se for o caso, ao agendamento, de acordo com a disponibilidade do doente e do anestesiologista.

Jovens aderem com maior facilidade

Como seria de esperar, há alguma assimetria na adesão em função do grupo etário. Os doentes mais jovens – com maior grau de literacia informática – aderem com maior facilidade. No entanto, podemos dizer que a faixa etária de doentes consultados por teleconsulta vai desde os 12 até aos 86 anos.

Depois de um início com as vicissitudes próprias de um projeto que começa do zero, o processo tem vindo a ser constantemente melhorado e agilizado, sentindo-se, da nossa parte, mas, o que é mais importante, da parte dos doentes, uma reação francamente positiva à experiência da teleconsulta. Sentimos, nós e os doentes, que esta metodologia traz vantagens, sobretudo no que respeita à satisfação do doente, fruto da supressão das deslocações, da redução do tempo despendido, incómodo para terceiros e uma poupança, por vezes significativa, a nível financeiro.

O Hospital beneficia pela diminuição do número de pessoas que a ele afluem, permitindo otimizar recursos humanos, além de proporcionar maior flexibilidade no caso de necessidade de reagendamento da consulta.

Desafios futuros

Relativamente à Teleconsulta de Anestesia, seria interessante ter disponível, para resposta imediata após o final da consulta, um questionário de satisfação do doente. Também achamos que era importante criar um instrumento de divulgação interna e externa acerca deste serviço. Por último, seria muito interessante ter uma cobertura nacional de postos de balcões digitais com, pelo menos, um balcão em cada freguesia, onde os doentes possam dispor dos meios técnicos e de apoio de pessoal treinado em tecnologias digitais.

A Telemedicina é um tema emergente entre os anestesiologistas e, embora permaneçam alguns desafios, tem mostrado, através de estudos publicados recentemente em revistas de referência, que é possível realizar a avaliação pré-anestésica de forma segura, eficiente e com elevado grau de satisfação dos doentes.

A nossa experiência confirma esta convicção, sentindo, por isso, o dever de partilhar a nossa prática neste domínio ainda relativamente pouco explorado na comunidade anestésica.

Teresa Almeida, médica anestesista 


[i] ASA – American Society of Anesthesiology (em português: Sociedade Americana de Anestesiologia). Representa o sistema de pontuação clínica mais utilizado no mundo.

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